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A moda e o movimento LGBTQIA+: uma relação estreita e de trocas mútuas

Dentro do contexto LGBT, a moda sempre foi uma ferramenta de expressão, escape e representatividade

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Junho é mundialmente conhecido como o mês do Orgulho LGBTQIA+, graças à Revolta de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969, sendo considerado o marco mais representativo pela luta dos direitos LGBT. O levante coletivo foi a mola propulsora para a conquista de direitos que são usufruídos e constantemente reivindicados até hoje. As conquistas são lentas e graduais, mas a luta deve continuar, ainda mais diante de um cenário tão regressivo quanto o que vivemos hoje, principalmente no âmbito nacional. É preciso resistir.

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ANTES DE TUDO, RESPEITO!

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O papel de quem não faz parte em si do movimento, é o de respeito, acolhimento e informação, para que haja diminuição da exclusão e aumento da representatividade e da inclusão. É preciso entender que a falta de informação e excesso de preconceitos mata e causa sofrimento: não há nada de errado em ser genuinamente quem se é, embora a sociedade pregue o contrário. Não é preciso se encaixar em padrões comportamentais e expressivos – a crença de que isso deve acontecer, gera desigualdades que ainda são a realidade de muitos, marginalizando pessoas e as tornando socialmente vulneráveis.

O fato de “não aceitar” a identidade e orientação sexual das pessoas traz inúmeras desigualdades sociais por algo que diz respeito somente a elas mesmas. Discutir sobre o assunto discorre por temas aparentemente complexos, mas que são revestidos de contradições, conservadorismo e preconceitos, sempre olhando para o lado dos tradicionalismos e tabus, desconsiderando os desejos e necessidades genuínas de quem realmente faz parte do público LGBTQIA+.

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O FLERTE ENTRE A MODA E O MOVIMENTO LGBTQIA+

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Antes da reivindicação dos direitos LGBTQIA+, era crime não ser heterossexual nos Estados Unidos, e medidas como usar, obrigatoriamente, ao menos três peças de roupa correspondentes ao seu gênero eram tomadas, caso contrário, havia a possibilidade de prisão. Esta era uma, dentre as várias formas de tentar controlar e reprimir o público LGBT, e também, uma dentre as várias maneiras em que a moda representou a atmosfera de um tempo e de uma situação: a exuberância e liberdade de expressão dando vez à discrição de maneira forçada, como um símbolo de opressão.

E falando da íntima relação entre moda e o movimento LGBTQIA+, muitos estilistas que viviam sua homossexualidade de forma mais exposta – dentro do possível – fundadores das principais grandes casas de luxo, faziam de suas criações palco para expressarem ideias inovadoras, questionadoras, expressivas e subversivas, cada um dentro de sua identidade, muitas vezes com resultados que chocavam a sociedade na época, tais como Yves Saint Laurent com seu terno para mulheres na década de 1960.

Até hoje, as trocas entre moda e o público LGBT são mútuas: cada período da história de lutas e conquistas do movimento servem de inspiração e referência para grandes marcas e estilistas e vice-versa, sempre surgindo ideias disruptivas e que agem na direção de nos levar para cada vez mais longe dos tabus de maneira criativa, expressiva, e por vezes, propositalmente provocativa.

BALL CULTURE

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Além do mundo da moda, de maneira geral, ser um local que costuma acolher pessoas pertencentes ao público LGBTQIA+ em relação à empregabilidade, também é um lugar que sempre foi visto como a oportunidade de se ver representado de maneira mais livre e genuína e de conseguir sentir-se parte de algo, principalmente em tempos onde a exclusão era ainda mais explícita, como na década de 1980.

Inclusive, na época, ficaram famosas as batalhas de voguing da cena underground LGBT, conhecidas como “Ball Culture”. A história é bem contada na série “Pose” e no documentário “Paris is Burning”. A batalha consiste em apresentações em discotecas onde os candidatos desfilam fazendo uma performance de voguing, se vestindo de acordo com a categoria que estão competindo, representando o tema de maneira apropriada. Os quesitos considerados são as habilidades performáticas, a atitude, e claro, o figurino. Era uma maneira do público LGBT tão excluído sentir-se parte do mundo real, mesmo que por instantes, apenas dentro daquele personagem performando na “passarela”, e de certa forma, expressando sonhos e anseios.

Indo além do espetáculo, a maioria dos participantes dos balls, são pertencentes a grupos conhecidos como “houses”, lideradas por “mães” LGBT um pouco mais velhas, que orientam e apoiam suas “crianças”. Sabe-se que grande parte do público LGBTQIA+ sofre preconceitos que começam desde suas próprias famílias que não os aceitam e acabam os expulsando de casa ao descobrir sua identidade de gênero ou orientação sexual, os deixando à beira do acaso, e as “houses” os acolhem de diversas formas, dando inclusive seu nome a seus integrantes. As casas que se destacam por ganhar muitos troféus recebem o título de “legendary”.

Hoje, ainda existem os ballrooms, mas para experienciarmos ao menos um pouco da cultura, podemos encontrar amostras potentes no reality show “RuPaul’s Drag Race”, onde acontecem competições entre Drag Queens com destaque à performance, figurino, atitude, entre outros quesitos. O programa pode ser considerado uma verdadeira conquista do público LGBT, se pararmos para pensar que saímos da “estaca zero”, de uma época onde não ser hétero era crime, para um programa que é apreciado por diversos públicos no mundo inteiro, trazendo à tona e de maneira explícita a cultura LGBT – isso dentro de um período de cerca de 60 anos.

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REPRENTATIVIDADE POP

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A cultura pop, conversa, colabora e complementa a moda, sendo uma grande ferramenta de empoderamento e orgulho para o público LGBT, pois ao longo da história, conseguiu transitar com mais fluidez, expressividade e sensibilidade dentro de temas considerados tabus, explorando além dos conceitos, a estética característica do universo gay.

Dentro do contexto da década de 1980, vale destacar a importância que Madonna teve não somente para o público LGBT, mas também para as mulheres, ao abordar em sua arte temas como a liberdade sexual em suas diversas esferas. Hoje pode parecer algo mais corriqueiro, mas para a época, foi algo chocante e revolucionário fazer do voguing, por exemplo, um sucesso pop, com refrão e coreografia em seu documentário “Na cama com Madonna”, filmado enquanto realizava sua turnê “Blond Ambition” na década de 1990.

Lady Gaga também é considerada um ícone pop representante dos direitos LGBT, desde quando começou a fazer sucesso, no final dos anos 2000. A artista sempre foi engajada na luta pelos direitos do público LGBTQIA+ e foi uma das principais vozes contra o “Don’t Ask, Don’t Tell”.

O álbum “Born This Way” foi um marco, pois tratou de assuntos importantes e profundos de uma maneira extremamente artística e sensível, instigando a quem um dia já se sentiu diferente ou excluído a celebrar o amor-próprio com liberdade, autenticidade e com toda a imposição que sua estética exuberante instiga – e inspira. Suas letras, sonoridade e identidade visual causam euforia, um desejo de ser quem se é da maneira mais genuína que pudermos exatamente agora – até hoje.

O ESTADO DE ESPÍRITO DA ESTÉTICA CAMP

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Coerentemente usando Lady Gaga como ponte para abranger a temática, camp ficou mais conhecido graças ao Met Gala 2019, onde o conceito serviu de tema para o tapete vermelho. É interessante – e possível  – relacionar a estética ao universo LGBT, já que as definições do conceito são profundas e nada exatas ou pontuais. Camp pode ser definido como a essência do amor por aquilo que não é natural, pelo exagero e pelo artifício, indo de encontro, principalmente, com a cultura Drag Queen, usando a exuberância da própria imagem com a finalidade de expressão, protesto e posicionamento.

O termo também pode ser relacionado a se destacar por ser diferente, da maneira mais essencial e substancial que se possa compreender, no sentido de resistência. Na estética gay, ao longo da história, o camp pode ser considerado o exagero que critica a sociedade e uma maneira de protesto contra as expectativas burguesas, por ter se tornado o símbolo de uma atitude mais liberal em relação à sexualidade, política e sociedade na década de 1960.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

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A moda sempre foi e sempre será uma ferramenta de expressão, porém, em alguns casos, ela é a voz que fala mais alto, que posiciona, que reivindica, que difere pelos motivos mais profundos que se possa imaginar. A comunicação pode ser dada de maneira individual ou coletiva. Dentro do universo LGBT, as mensagens sempre foram potencializadas com as roupas: modelagens, silhuetas, bordados, cores, estampas e acessórios sempre foram a voz silenciosa de quem pouco tinha a chance de se expressar, elas sempre foram um escape, uma maneira de se colocar no mundo real de um jeito empoderado e orgulhoso, mesmo que de maneira performática e com um certo toque lúdico.

Indo além da racionalidade e da dura realidade, a moda explora sentimentos, sensações e permite que se coloque sensibilidade e afeto em coisas e situações que, muitas vezes, passam despercebidas por quem tem o privilégio de não precisar medir seus passos e se limitar, se esconder apenas por ser quem se é, puramente por amar.

E que ela continue sendo palco e voz para quem mais precisa, em todos os âmbitos possíveis. Que ela continue sendo uma forte ferramenta de representatividade e empoderamento para que o mundo saiba que existem pessoas diferentes, e que essas diferenças um dia possam ser celebradas por todos, com respeito, inteligência, amor e acolhimento.

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