Com mentes criativas e inquietas, conheça mulheres inspiradoras que revolucionaram a moda, de Chanel e Mary Quant a Zuzu Angel e Patrícia Bonaldi
A moda como conhecemos hoje, com coleções inspiradas em temas e criadas por estilistas/diretores criativos, nasceu no século XIX, na década de 1850, graças ao inglês Charles Frederick Worth. Considerado o “pai da Alta Costura” e primeiro estilista da história. Que propôs a criação de modelos próprios, sem acatar os gostos e definições da realeza – antes, com domínio absoluto do estilo das vestimentas. Mas hoje, no Dia da Mulher, vamos relembrar 9 estilistas inspiradoras com trajetórias marcantes na história da moda.
Worth foi revolucionário e mudou todo o sistema de funcionamento da moda. Diversos conceitos propostos por ele ainda são utilizados, como coleções criadas para cada estação do ano, desfiles e assinaturas de coleção. Mas, a partir daí, surgiram diversos estilistas, inclusive mulheres, que com suas visões e necessidades particulares e coletivas, criaram suas próprias marcas – no sentido literal e figurado – e colaboraram para a transformação cultural, industrial e econômica do mundo.
Neste Dia da Mulher vamos celebrar as estilistas que mudaram o rumo da historia da moda e se fazem presentes em nosso dia a dia até hoje. Vem conhecer a trajetória de cada uma delas:
Leia também: GIRLHOOD: A TENDÊNCIA ULTRA FEMININA QUE VEIO PARA FICAR
Coco Chanel
A estilista mais famosa da moda, e a única presente na lista de cem pessoas mais importantes da história do século XX pela revista Time, Gabrielle Chanel nasceu em 1883, em Saumur, na França. Ainda muito jovem, seu primeiro emprego foi como costureira em uma loja de têxteis. Trabalhar com moda foi um – feliz – acaso, já que seu sonho era ser cantora de cabaré, ofício que, ao realizar em um café-concerto, lhe rendeu o famoso apelido “Coco”.
Sempre retratada como uma mulher prática e astuta para os negócios. Chanel começou, de fato, sua carreira na moda com uma loja de chapéus e passou a ganhar reconhecimento mundial durante as décadas de 1920 e 1930. Mas foi no período dos Anos Loucos (1920), que demonstrou grande sintonia com o espírito do tempo da época com criações icônicas. Como vestidos elegantes, funcionais e confortáveis, além do famoso e atemporal “pretinho básico”, inicialmente chamado de “Ford da moda”, em 1926.
Já nos anos 1930, a estilista foi uma das primeiras mulheres “modernas” a aderirem e difundirem o uso das calças, fato que chocou a sociedade francesa da época. Mas, no Dia da Mulher, lembramos do legado de Chanel por revelar sua importância para a libertação feminina através das roupas. Inspirando-se na praticidade, mobilidade e anatomia do vestuário masculino, e indo contra as “amarras” desnecessárias da moda feminina da época.
Apesar de um período que se revelou sombrio durante a Segunda Guerra Mundial, por conta de seu envolvimento com a inteligência nazista, – fato que não pode ser ignorado –. Não podemos negar que, através da moda, Chanel ampliou os horizontes e mudou os pensamentos e comportamentos femininos.
Elsa Schiaparelli
A simbiose entre moda e arte é bastante comum hoje em dia, mas por volta dos anos 1930 a ideia soava bastante vanguardista. Nascida em 1890, a italiana Elsa Schiaparelli foi, e ainda é, uma das estilistas mais importantes da história da moda. Sendo a pioneira em unir moda e arte, seus caminhos de vida a levaram a se aproximar de grandes artistas da vanguarda europeia, e a tornar-se uma grande referência através de suas criações memoráveis, expressivas e icônicas.
Sua proximidade com a arte a direcionou para o surrealismo, movimento artístico que questionava a arte através da ironia. Com o intuito de retratar o inconsciente sem preocupações estéticas ou morais, trazendo a simbologia dos sonhos para o mundo real. Como se fosse a expressão do funcionamento do pensamento. Mas daí, pode-se captar sua essência espirituosa e excêntrica, que conversa com conceitos inteligentes e com a maestria em traduzi-los em roupas e acessórios de Alta-Costura.
Dentre as collabs com escritores, pintores e escultores, as mais famosas criações a quatro mãos foram com o pintor espanhol Salvador Dalí e com o poeta francês Jean Cocteau. Além das peças icônicas como o vestido esqueleto, criado em 1938, o Chapéu-Sapato, a estilista também inovou no uso de materiais como o rayon e o celofane. Mas, seus primeiros passos em direção ao movimento surrealista foram com a criação do pulôver tricotado à mão com um laço em trompe-l’oeil (engana olho) na gola.
Com cores ousadas, formas surrealistas e muita ousadia, Schiaparelli deixou um incrível legado de criatividade e liberdade de expressão através da arte – com maestria em suas execuções –. Mas, que hoje, no dia da mulher são celebradas e relembradas com as criações de Daniel Roseberry, atual diretor criativo da marca que sempre se destaca durante as Fashion Weeks.
Leia também: A evolução de estilo de Taylor Swift através das suas eras musicais
Mary Quant
O que te lembra uma margarida estilizada com cinco pétalas? E uma minissaia? Mary Quant, certo? A estilista londrina, que nasceu em 1934 e teve contato com moda desde a infância, criou o famoso – e divertido – logo em 1955. Quando, junto de seu marido, Alexander Plunkett Greene, abriu a loja Bazaar, na famosa King’s Road, rua localizada no bairro de Chelsea em Londres, hoje, associada à efervescência da moda jovem sessentista.
O público-alvo da loja Bazaar era, assim como Mary, jovens com menos de 30 anos que não queriam comprar nos mesmos lugares que seus pais. Eureka: foi aí que ela começou a criar as roupas da marca e se tornou especialista em entender o que as ruas queriam e converter atitude em peças de vestuário. Sua identidade criativa contemplava roupas descomplicadas, coloridas e mais curtas do que mandava a cartilha de bons costumes fashion da época.
Quant inovou não somente nos produtos, mas na venda em si: música alta, distribuição de drinques, vitrines ousadas e vendedores descontraídos e sinceros eram constantes em seus endereços. Além disso, roupas de tecidos alternativos, como as capas de chuva de PVC, batons mais claros que a boca, rímel à prova d’água e hot pants. Sendo quase sempre usadas com meias-calças coloridas, minissaias, suéteres e botas de salto e cano alto. Unindo princesas e plebeias e alçaram as modelos Twiggy e Jean Shrimpton ao sucesso.
No Dia da Mulher, celebramos a trajetória de Mary Quant por sua incrível capacidade visionária nos negócios e nas criações. Que além de mais acessíveis aos jovens, acompanhavam a grande mudança sociocultural da década de 1960. Sendo largamente influenciada pela estética Mods e pela cultura Beatnik. Responsável por viralizar a minissaia, ela carrega o adjetivo de visionária, livre e revolucionária.
Vivienne Westwood
Com uma identidade rebelde e subversiva desde o início da carreira, a inglesa Vivienne Westwood, nascida em 1941. Participou ativamente e com protagonismo na criação da identidade visual do movimento punk rock na década de 1970.
A parceria com Malcolm McLaren, empresário da banda Sex Pistols, precursora do movimento punk no Reino Unido, ia além do matrimônio: em 1971, eles abriram a boutique “Let it Rock“. Em Londres, que funcionava como uma comunidade underground com roupas que carregavam frases e elementos característicos da contracultura punk. Trazendo peças como jaquetas de couro, zíperes em destaque, camisetas personalizadas com spikes e o uso de materiais divergentes aos da época.
O visual fetichista, subversivo e transgressor característico da estilista fazia parte dos figurinos da banda Sex Pistols. Que, mesmo com um sucesso efêmero e repleto de polêmicas, colaborou para o reconhecimento de Vivienne no cenário fashion. Mas, com o fim da banda em 1976, e a absorção do punk rock ao mainstream, Vivienne partiu em busca de novos desafios.
Ela perpetuou sua carreira na moda nos anos 1980, ao fazer, junto de Malcolm, seu primeiro desfile em Londres com peças da coleção Pirate. Com muitas saias com babados e silhuetas largas, hoje considerada a vanguarda do movimento neo-romântico dos anos 1980. Em 1982, fez seu primeiro desfile em Paris, tornando-se conhecida e ainda mais relevante no cenário internacional. Vestidos de noiva, espartilhos e a subversão são sua marca registrada.
No Dia da Mulher, celebramos Vivienne Westwood pelo seu legado que, do início ao fim, como ela mesma declarou. Combinou moda com ativismo: da mensagem do movimento punk ao ativismo climático, a estilista, que nos deixou em 2022. Mas, continua nos inspirando até hoje a acreditar e lutar pelo que acreditamos com confiança e muita criatividade.
Leia também: Menos é mais: a tendência quiet luxury protagoniza o básico
Diane Von Furstenberg
A belga Diane Simone Michelle, nascida em Bruxelas, no ano de 1946, é conhecida por ser a estilista da praticidade. Em 1969 casou-se com Egon Von Furstenberg, príncipe da Alemanha, passando a ser Diane Von Furstenberg e a ter uma vida luxuosa e agitada com festas e eventos da alta sociedade.
A nova rotina de Diane a fez perceber a importância e o valor da mulher no mercado de trabalho. O insight do que então viria a ser sua identidade criativa veio a partir da observação da necessidade do uso de roupas confortáveis e funcionais, porém elegantes e que possibilitam mais dinamismo à mulher.
A designer ficou conhecida por criar o icônico wrap dress, – ou vestido envelope – em 1974, confeccionado em jersey de algodão seco, que une, perfeitamente, elegância e conforto. Valorizando a silhueta feminina com um toque de sensualidade. Mas, a criação conquistou a mulher moderna e trouxe a sensação de emancipá-la de roupas complexas, tornando a estilista uma das mais influentes do mundo.
Hoje, no Dia da Mulher, relembramos e celebramos a trajetória de Diane que já criou premiações que arrecadam fundos para apoiar outras mulheres. Que defende a beleza natural e o direito feminino de envelhecer sem tantas cobranças. Muito além de criar um dos vestidos mais icônicos do mundo, a estilista entendeu as necessidades femininas a partir de si mesma. Trazendo um motivo às mulheres para se sentirem preparadas para as exigências da vida e ao mesmo tempo poder se auto apreciar.
Rei Kawakubo
A japonesa Rei Kawakubo nasceu em Tóquio, em 1942. Seu primeiro contato com a moda foi em 1964, trabalhando em uma empresa química produtora de fibras acrílicas. Mais tarde, em 1967, tornou-se stylist freelancer, profissão que guiou seus passos para se tornar uma designer. Mas, por não conseguir encontrar as roupas que precisava para as sessões de styling de seus clientes de publicidade. Diante da necessidade, ela mesma começou a desenhar e fazer roupas.
Em 1969 criou a marca Comme des Garçons, lançando, em seguida, sua primeira coleção de roupas femininas. Sua abordagem rompia com as expectativas da moda europeia e, assim como outros estilistas que trabalhavam fora dos padrões estabelecidos, as criações de Rei não foram bem aceitas pelos críticos inicialmente.
Com uma essência subversiva, andrógina e performática, a estilista se tornou uma referência cultural por ir além das convenções e fundir moda e arte. Tendo assim, uma exposição privilegiada no The Metropolitan Museum of Art, de Nova York. Com criações realmente dignas de estarem em um museu, e com um know-how que vai além das entrelinhas da Alta-Costura.
No Dia da Mulher, trazemos o legado de Rei Kawakubo como um lembrete para questionarmos e, diante da insatisfação. Propormos novas formas de pensar e agir, sempre acreditando nas nossas próprias referências, intuição e confiante de que a nossa mensagem será entregue.
Stella McCartney
Em Londres, 1971, nascia Stella McCartney, filha do ex-beatle Paul McCartney e de sua esposa, Linda McCartney. A designer passou boa parte da infância viajando com os pais e o interesse por moda apareceu bem cedo, por volta dos 13 anos, quando começou a criar suas próprias roupas. Aos 16, foi estagiária de Christian Lacroix e, posteriormente, estagiária na Vogue UK.
Em 1995, formou-se como Designer de Moda na famosa Central Saint Martin, e não levou muito tempo para ganhar destaque no mundo fashion. Mas, em 1997, começou a trabalhar no grupo Vendôme Luxury, onde ficou responsável, ao lado de nomes como Phoebe Philo e Hannah MacGibbon. Por expandir os horizontes da marca Chloé, lançando coleções de acessórios que incluíam bolsas e calçados.
Mesmo tendo seu potencial e ascensão associados ao fato de ser filha de Paul McCartney, o que, sem dúvidas, contribuiu para seu sucesso. Stella foi se provando ao longo dos anos, uma profissional criativamente competente e ambientalmente responsável. Mas com grande interesse e atuação no campo da moda sustentável e da produção ética.
Stella McCartney é uma das nossas estilistas homenageadas no Dia da Mulher por ser uma das designers mais importantes da atualidade devido à sua preocupação ativa com o meio ambiente. O equilíbrio entre produção sustentável e criações comerciais da estilista é o meio-termo que a moda precisa se inspirar neste momento.
Zuzu Angel
A rainha da moda brasileira, Zuleika de Souza Netto, nasceu em 1921, Curvelo, Minas Gerais. Em 1943, casou-se com Norman Angel Jones, com quem teve três filhos, Stuart, Hildegard e Ana Cristina. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1947, onde se tornou costureira profissional e, pouco tempo depois, se divorciou.
A história de Zuzu se mistura ao período da Ditadura Militar. Em 1971, um ano após abrir sua primeira boutique, seu filho Stuart, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Mas foi capturado no Rio de Janeiro pelos militares e preso na Base Aérea do Galeão, ele nunca mais foi encontrado.
O fato definiu os rumos da carreira da costureira – como gostava de ser chamada. No mesmo ano, ela fez um desfile-protesto no consulado brasileiro de Nova York. Incluindo roupas que incorporaram elementos que denunciavam a situação política brasileira: tanques de guerra, canhões, pássaros engaiolados, meninos aprisionados e anjos amordaçados, o que a fez ganhar notoriedade internacional.
O poder de criação de Zuzu Angel espelha uma mãe que amou seu filho e que usou seus saberes para criar uma moda irreverente. Mesclando o manifesto e luta com signos caracteristicamente brasileiros. Com isso, faz o uso de materiais até então considerados simples e baratos, e os transformando em peças autênticas e que viriam a se tornar referência nacional.
No Dia da Mulher, celebramos a história de Zuzu por seu pioneirismo, criatividade e força. Ela inspirou o uso da arte fashion para causas sociais e valorização cultural, sendo uma das estilistas mais autênticas e icônicas do país.
Patricia Bonaldi
Patricia Bonaldi é mineira de Uberlândia e já se encantava pelo universo da moda desde criança, quando ia à costureira acompanhar a mãe. Já quis ser médica, estudou direito e morou no Japão por três anos e, quando voltou do Oriente, em 2002, abriu uma loja de roupas multimarcas.
O ponto de virada da carreira foi quando uma cliente foi até sua loja e ficou encantada com o vestido bordado que Patricia estava usando – criado por ela mesma. A partir de então, começou a criar coleções que tinham como ponto central o bordado artesanal mineiro. Com o aumento da demanda, ela criou o projeto “Bordando Sonhos” em sua terra natal para capacitar homens e mulheres, de forma gratuita, a aprender a valiosa técnica.
Em 2012, fundou a PatBo, considerada uma das maiores e mais importantes marcas do Brasil. “Ela traz a expertise do handmade que desenvolvi na Patricia Bonaldi, mas imprime um lado mais experimental e destemido, que me permite ousar e me superar criativamente, fazendo uma moda fun e fashionista. As coleções também são amplas, transitando por evening, jeans, casual e beachwear”, comenta a estilista sobre a marca.
Além do reconhecimento nacional, as criações de Bonaldi também caíram no gosto de diversas celebs internacionais. Como Camila Cabello que usou um look da marca no Grammy em 2023, e claro, Beyoncé, que vestiu PatBo em um show da turnê “Renaissance Tour” em Vancouver. Mas quando veio a Salvador para o evento de pré-estreia do documentário “Renaissance: A Film by Beyoncé”, vale destacar também, que PatBo é a única marca brasileira a participar do calendário da New York Fashion Week.
Dia da Mulher: elas mudaram os rumos da história da moda e inspiram no estilo – e na vida
De todas as estilistas incríveis que relembramos e celebramos no Dia da Mulher, conseguimos perceber a sagacidade em se adequar ao espírito do tempo com criações que mudaram para sempre os rumos da moda e que fizeram trocas recíprocas com os movimentos estéticos e comportamentais dos períodos em que viveram – e vivem.
Todas são criativas, intuitivas e confiantes. Usam a arte, suas próprias histórias e referências como combustível de expressão. Mesclando a criatividade com a necessidade de manter um negócio, com ideias comerciais, que vendem, atendem desejos, geram pertencimento. Mas que não sobressaem ao amor por simplesmente criar e colocar suas ideias no mundo.
Uma lição aprendida? Você não faz as coisas pensando que vai ser visionária, simplesmente segue o seu coração de forma genuína e colhe os frutos por acreditar em si mesma.